sábado, 28 de abril de 2012

Competir ou cooperar



Revista virtual EFArtigos - Natal/RN - volume 03 - número 02 - maio - 2005




Caroline Matos dos Santos *
Helio Santos Bóga Filho *
Maria Josiane de Azevedo Correia *

Introdução

Desde os mais remotos tempos a competição e a cooperação vem dividindo espaço na natureza. Nós, seres humanos, muitas vezes temos que cooperar uns com os outros ou com determinada situação, mas muitas vezes a vida nos coloca a competir.
A escola torna-se algo muito importante neste aspecto, quando colocamos a educação voltada para a convivência como condição importante para da vida cotidiana, assim, a escola passa a conviver com uma realidade que nem sempre é atribuída ao seu contexto.
É necessário que haja um resgate da valorização de comportamentos e atitudes mais humanas, para que possamos ter outros caminhos, ao qual possamos escolher o melhor com fim de valorizar mais o que somos e o que fazemos.

Competir ou cooperar

A todo o momento estamos utilizando a cooperação e a competição, de acordo com as necessidades encontradas.
Vejamos a seguir algumas definições:
Segundo Brotto (1999), a cooperação é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.
A competição é um processo de interação social, em que os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição uma às outras. E os benefícios são concentrados somente para alguns.
De acordo com o Dicionário Aurélio cooperar é operar ou obrar simultaneamente; trabalhar em comum; colaborar; cooperar para o bem público; cooperar para o trabalho em equipe.
Competição é o ato ou efeito de competir; busca simultânea por dois ou mais indivíduos, de uma vantagem, uma vitória, um prêmio, etc.

Competir sim, rivalizar não!

Quando falamos de competição e cooperação não estamos nos referindo a antônimos.
Como afirma Brotto (1999), “Cooperação e competição são aspectos de um mesmo espectro, que não se opõe, mas, se compõe”.
Em nossa sociedade fica evidente uma competição completamente negativista, onde somente os vencedores merecem atenção e destaque, gerando aos “perdedores” o medo, o fracasso e a derrota.
Brotto (1995), baseado nos estudos de Margareth Mead, afirma que é a estrutura social que determina se sociedades irão competir ou cooperar entre si.
Adotar a competição como forma de exclusão é retroceder não só em termos da educação escolar, mas da sociedade como um todo.
“Num passado recente já se tentou formar atletas nas escolas, com incentivo do governo, propagando a falácia de que o Brasil se tornaria uma Nação Olímpica. E isso não aconteceu, pois escola não é lugar para selecionar os melhores e excluir os menos hábeis e, sim habilitar a todos (Soller 2002)”.
A competição não precisa assumir a “capa de vilão”, é preciso trabalhar a competição de forma humanizada, onde aspectos positivos prevaleçam.
Segundo Schut (1989), a competição é prejudicial quando há a tentativa de trapacear, quando há um gasto excessivo de energia para ganhar ou, ainda, quando representa diminuição do adversário.
Para muitos a competição acirrada encontra respaldo na teoria da seleção natural de Darwin.
De acordo com Soller (2003), “o mais apto” não significa ser o mais forte ou o mais bruto. Darwin ficou amargurado por suas teorias terem sido distorcidas para justificar negociatas, crueldades e guerras contra os mais fracos. Charles Darwin afirmou claramente que, para a raça humana o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no senso moral e na cooperação social. Os jogos competitivos podem e devem ter seu papel educacional. Esses podem contribuir para desenvolver no grupo o respeito, a solidariedade, amizade entre outros, contudo que seja trabalhado em um ambiente bem administrado.

A importância dos jogos cooperativos

Segundo Lopes (s.d.) o jogo por si só é uma atividade que contém em si mesmo o objetivo de decifrar os enigmas da vida e de construir momentos de prazer. Sendo e utilizado como uma atividade de desenvolvimento humano, permitindo então, uma participação de aprendizagem, com o compromisso do buscar pedagógico, transformando e contextualizando-o num exercício crítico e consciente do aprender.
Os jogos cooperativos têm como objetivo buscar a participação de todos sem que haja qualquer tipo de exclusão, pois, são os jogos em que os participantes jogam uns com os outros e não uns contra os outros, favorecendo assim, a união entre as pessoas, a confiança mútua e a participação autêntica de todo o grupo.
Segundo Brotto (1999), jogando cooperativamente podemos reconhecer que a verdadeira vitória não depende da derrota dos outros.
Podemos compreender que ao participarmos do jogo e vivermos a vida, o principal valor está na oportunidade de conhecer melhor nossas próprias habilidades e potencias e então cooperar para que os outros realizem o mesmo.
Segundo Soller (2003), a aula de Educação Física é o espaço ideal para se trabalharem os jogos cooperativos e claro que não exclusivamente, pois, a idéia é que todo o universo escolar trabalhe aspectos cooperativos.
Atualmente as aulas de Educação Física não utilizam como prioridade esse aspecto cooperativo. Muitas escolas promovem eventos competitivos entre suas próprias turmas, onde até mesmo durante as aulas, não só de Educação Física, utilizam metodologias em que o aluno acaba se colocando superior ao outro, deixando de lado os princípios utilizados pelos jogos cooperativos que podem ser atribuídos de diferentes formas dentro da escola.
Os jogos cooperativos, segundo Barreto (2000), possuem cinco princípios básicos, julgados fundamentais para seu desenvolvimento. São eles: inclusão, coletividade, igualdade de direitos e deveres, desenvolvimento humano e a processualidade.
De acordo com Soller (2003), o professor de Educação Física pode aproveitar o fato do jogo ser algo que seduz e por intermédio dele, passar mensagens positivas.
Sendo assim, fica claro que os jogos cooperativos possuem um papel importante dentro da Educação Física Escolar e se envolve na escola como um todo.
Assim a Educação Física atualmente pode utilizar-se de um novo modelo para a Educação Física Escolar, com uma nova proposta que visa os jogos cooperativos como abordagem pedagógica, que pode ser trabalhada pelos professores de Educação Fica no decorrer de suas aulas.

A exclusão das aulas de Educação Física

Um fato preponderante para a exclusão nas aulas de Educação Física é o desinteresse que pode ser causado por uma série de fatores como a relação aluno x aluno, aluno x professor, aulas monótonas ou até mesmo competições acirradas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, documento destinado à Educação Física, nos mostra bem onde nos leva a verdadeira exclusão: “Para boa parte das pessoas, que freqüentaram a escola, a lembrança das aulas de Educação Física é marcante: para alguns, uma experiência prazerosa, de sucesso e de muitas vitórias; já para outros uma memória amarga, de sensações de incompetência, de falta de jeito, de medo de errar”.
Nós, como professores de Educação Física, devemos contornar estes problemas a fim de integrar e incentivar os alunos. Não devemos estar preocupados com os melhores rendimentos esportivos, muitos menos só na aptidão física do aluno. O papel principal é capacitar todos de uma mesma forma
A Educação Física pode ser um meio importante para uma tomada de consciência em todas as demais áreas da sociedade.
Segundo Brotto (1999), ao modificar o comportamento no jogo, estaremos criando possibilidades para transformar atitudes em nossa vida além do jogo.

Conclusão

A competição em nossos dias assume um papel exclusivista, onde somente alguns tem o direito à vitória e as honras.
A cooperação através dos jogos cooperativos vem assumindo um papel importante na mudança da Educação Física Escolar, a fim de contribuir para uma visão não excludente, onde todos possam participar e ganhar. Com isso busca-se uma mudança em relação à sociedade na qual estamos inseri-dos.
Enquanto educadores, podemos nos valer de diversas formas para trabalhar essa conscientização em nossos alunos, basta reconhecer nosso papel fundamental neste processo.

Bibliografia:

1) BARRETO, André Valente de Barros. Jogos Cooperativos: Metodologia do Trabalho Popular: Acesso em 25 fev.2005.
2) BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental: Brasília: MEC/ SEF, 1997.
3) BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar. São Paulo: Cepeusp, 1995/Santos: Projeto Cooperação, 1997 (ed. Renovada).
4) BROTTO, F. O., Jogos Cooperativos: O jogo e o esporte como exercício de convivência. Dissertação de Mestrado. UNICAMP. Campinas: 1999.
5) BROTTO, F. O., Jogos Cooperativos: Um exercício de comvivência. São Paulo: SESC, 1999.
6) BUARQUE, A. Novo dicionário Aurélio de língua portuguesa. Rio de janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
7) DARIDO, S.C Educação Física na Escola: questões e reflexões. São Paulo: Topázio, 1999.
8) LOPES, J. C. Educação para Convivência e a Cooperação. Disponível em: http://efartigos.atspace.org/educacaofisicaescolar.html Acesso em: 25 fev.2005.
9) SCHUT, W. Profunda Simplicidade: Uma nova consciência do eu interior. São Paulo: Editora Ágora, 1989.
10) SOLLER, R. Jogos cooperativos para a Educação Infantil: Rio de Janeiro. Ed. sprint, 2003.
11) SOLLER, R. Jogos cooperativos: Rio de Janeiro: Ed. Sprint, 2001.



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